Ano de escolaridade: 4.º ano.

- Mrs Apelido, também dá aulas na EB 2,3, aos alunos do 5.º e do 6.º?
- Não, só dou aos do 3.º e 4.º ano. Podia dar, mas não dou.
- Oh, que pena!

Esta não foi a primeira vez que alunos de 4.º ano me abordaram no sentido de saber, mais ou menos esperançosos, se eu poderia ser sua professora de Inglês nos dois anos seguintes, mas desta vez pareceu-me ser uma pergunta e uma reação muito "da boca para fora". Noutras situações, em que poderiam ter demonstrado alguma afeição, ou lembrarem-se de mim, não houve nada. E, confesso, não fiquei indiferente a isso. Custou-me ter investido naqueles miúdos durante dois anos e eles não darem o mínimo valor.

Ano de escolaridade: 4.º ano.

Não costumo chegar atrasada à escola, mas não posso dizer que nunca aconteça... e hoje aconteceu. 😔

Ao aproximar-me da entrada do bloco onde iria ter as aulas esta manhã, cinco minutos atrasada, vi um aluno da primeira turma ainda no exterior, a comer umas bolachas Oreo. Não lhe disse nada, mas ele tomou iniciativa de me dizer:

- Mrs Apelido, eu já vou p'ra aula. Estou só a acabar de tomar o pequeno-almoço.

😶  

Ano de escolaridade: 4.º ano.

Eu estava a escrever no quadro. Os alunos copiavam. A certa altura...

Aluno: Não consigo ver nada!*

Eu, continuando a escrever: Abre os olhos.**

*Culpa minha, que [ainda] não concluí a licenciatura em invisibilidade.

**Fui insensível? Não me parece. Os alunos estão "fartinhos de saber" que, enquanto escrevo no quadro, tenho de estar à frente do quadro. Depois, desvio-me. Portanto, quando se põem a lamuriar sem razão, às vezes ouvem respostas menos diplomáticas. De qualquer maneira, esta resposta foi bem acolhida, pelo próprio e pelo resto da turma, talvez por ser inesperada.

Escrevi o título originalmente em inglês, mas o apóstrofo ficou todo esquisito, quando o post foi publicado, por isso usei a tradução (Were I invisible, this wouldn't have happened!)

Ano de escolaridade: 1.º ano.

Isto passou-se há muitos anos, quando eu ainda era professora titular no 1.º Ciclo do Ensino Básico. Tinha uma turma de 1.º ano de escolaridade. Nesse ano, resolvi fazer uma reunião com os pais todos os meses, para os ir pondo a par do que se passava, sobretudo na questão da iniciação à leitura e à escrita.

Na primeira reunião, entreguei um papel com as datas das reuniões do 1.º Período, salvaguardando que iria sempre relembrar, antes de cada reunião, e que, se houvesse necessidade de alteração, avisaria com alguma antecedência.

Os pais de um aluno disseram-me que, como tinham um restaurante e ambos trabalhavam nele, não conseguiriam estar presentes nas reuniões depois das aulas, por estarem em preparativos para servir o jantar. Combinei que arranjaríamos outros momentos para falarmos, sempre que necessário (é para isso que serve o horário de atendimento...). O assunto ficou arrumado. 

Uns tempos mais tarde, estava na sala com os alunos e, já não sei porquê, falávamos sobre a presença ou ausência dos pais na reunião na véspera, que tinha sido segunda-feira. O dito aluno disse:

- Os meus pais faltaram.

Eu retorqui:

- Sim, eu sei. Os teus pais não podem vir por causa do restaurante.

A resposta foi rápida:

- À segunda-feira o restaurante está fechado!

Ano de escolaridade: 4.º ano.

No meu agrupamento usamos o Google Classroom. Quando algum aluno escreve na Classroom, eu recebo uma notificação por email.

Há alguns minutos fui ao meu email e li a seguinte mensagem (onde está "aplido", estava o meu apelido, com uma gralha).

"mrs aplido estou com covid 19 entao deveria fassser o teste para sua seguranca"

Respondi, agradecendo o cuidado, e informando que fiz ontem o teste e também estou com Covid.

Fiquei realmente sensibilizada com a atenção da aluna (penso que foi mesmo ela). Já tive tantos, tantos alunos com Covid e nunca tive da parte deles (ou dos familiares) um aviso que fosse.

Ano de escolaridade: 4.º ano.

Estávamos a ver os nomes de animais em inglês (primeira aula sobre isso). A certa altura, uma aluna diz:

- As palavras em inglês são muito mais chiques!

Depois, deu exemplos de alguns nomes que tínhamos estado a dizer, dizendo as palavras em português com uma entoação normal e as correspondentes  em inglês com uma entoação "chique", uma certa "fleuma britânica" - Do you know what I mean?

Ano de escolaridade: 4.º ano.

Há uma atividade, chamada "Show and Tell", em que os alunos se inscrevem para "mostrar e contar".

Numa turma de 4.º ano, que já fazia "Show and Tell" desde o ano passado, ainda ninguém se tinha inscrito este ano.

Uma aluna disse-me, na passada sexta-feira:

- Mrs Apelido, já há inscrições para dois "Show-and-Teis"!

Ano de escolaridade: 4.º ano.

Segunda aula, no fim. Estou a recolher as folhas do trabalho dos alunos. Uma das folhas voa da mesa, antes de o aluno ma entregar. Baixo-me e apanho a folha (com facilidade).

Aluno, com ar surpreendido: Como é que conseguiu apanhar a folha, se é tão velha?

Eu, dando-lhe com as folhas ao de leve na cabeça: Velha é a tua avó.*

Aluno: [sorri, achando piada à minha resposta]

*Sem ofensa às avós, "instituição familiar" que muito prezo.

Ano de escolaridade: 4.º ano.

No fim da aula, uma aluna entrega-me uma pequena folha com letras desenhadas e pintadas por si, a dizer "i* LOVE MRS APELIDO**".

*Curiosamente, a mensagem estava toda em maiúsculas, exceto o início! Tenho constatado, ao longo dos anos, que muita gente insiste em colocar a pinta no "i" maiúsculo de imprensa - tanto miúdos, como graúdos (inclusive professores...)

**O meu apelido, evidentemente, e não a palavra apelido

Ano de escolaridade: 3.º ano.

Quando não tenho outra aula prestes a começar, costumo, no fim de uma aula, em qualquer turma, disponibilizar-me para ajudar os alunos no que precisarem. Normalmente os que ficam têm questões técnicas, próprias deste E@D em que vivemos.

No episódio que vou contar, quando a aula acabou, ficaram cinco alunos, e fui dando a palavra a cada um deles. Quando já só estava um aluno, ele perguntou-me:

- Pode dar-me o seu número de telefone?

Eu: Para...?

Aluno: Para eu telefonar, se precisar...

Eu: Eu não sou médica, nunca terás urgência em falar comigo! Podes mandar-me um email, não é?

Ele: Pois é...

Eu: Podes mandar-me um email e, se for preciso, marcamos um zoom para tirar dúvidas.

Ele: Pois é, tem razão.

Quem é que ficou com a sensação que a pergunta foi encomendada? 

🙋‍♀️