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Retalhos da vida de uns professores

Por aqui contamos episódios que se passaram dentro de uma sala de aula. Se és professor e quiseres, junta-te a nós!

Por aqui contamos episódios que se passaram dentro de uma sala de aula. Se és professor e quiseres, junta-te a nós!

Retalhos da vida de uns professores

07
Out20

COVID-19 e quarentena

nas aulas de inglês

Bruxa Mimi

Ano de escolaridade: 4.º.

Num exercício para completar frases iniciadas por:

I love ...
I like ...
I don't like ...
I hate ...

... muitos alunos escreveram COVID-19 na última. Não me surpreendeu.

Um aluno perguntou-me como se dizia "quarentena" em inglês. Eu disse-lhe (quarantine). A seguir perguntou-me como se escrevia. Eu disse-lhe, com a salvaguarda que teria de verificar se a seguir ao R era mesmo um E, como lhe disse, ou se era um A. É com A (quarantine) - hoje já lhe vou dizer para corrigir. 🙂

18
Jul20

A única amiga

- uma história rebuscada de aparente racismo

Bruxa Mimi

Ano de escolaridade: 4.º.

 

[Creio que não vou conseguir contar este episódio de forma muito exata. Mas da essência recordo-me, por isso vou avançar... Os nomes são inventados.]

 

Perto do fim do ano letivo, uma Mariana desesperada, quase em lágrimas, aparece na sala num intervalo grande, acompanhada da colega Luísa. Apresenta-me o seu problema:

 

- Professora, todas as meninas estão chateadas comigo e já não são minhas amigas porque dizem que eu chamei nomes [não me lembro o quê] à Inês, por ela ser preta, mas eu não chamei! Só a Luísa é que acredita em mim - ela é a única amiga que eu tenho agora. E a Carla [uma menina robusta com tendência para resolver os problemas à pancada, de pele escura tal como a Inês*] diz que me vai bater por eu ter dito aquilo, mas eu não disse!

 

Pedi que fossem chamar as visadas. Vieram. Coloquei cadeiras para ficarmos  sentadas em roda, as cinco: Mariana, Luísa, Inês, Carla e eu.

Expliquei o que me tinha sido relatado e dei a palavra à Inês e também à Carla. Resumindo: alguém disse à Inês que outra pessoa tinha ouvido a Mariana dizer aquilo. Nem a Inês, nem a Carla, nem ninguém da turma tinha ouvido a ofensa, mas todAs acreditaram no relato [não escrevo todOs, porque os rapazes estavam longe disto]. É o famoso e comum "diz que disse".

 

Perguntei à Carla se era verdade que tinha ameaçado bater à Mariana. Assumiu que sim. 

Eu: Já pensaste que pode ser mentira? Que se calhar a Mariana não disse nada? Mesmo que tivesse dito, as coisas não se resolvem a bater, não é? Mas ela pode nem sequer ter dito nada e tu, só porque alguém disse que ela disse, pensavas bater-lhe? Achas isso bem?

A Carla encolheu os ombros, mas concordou que não. A expressão dizia, no entanto, que, se a Mariana tivesse dito aquilo, merecia que lhe batesse. 

 

A este ponto, eu quis investigar melhor o diz-que-disse. Quem é que disse à Inês. Mandei chamar essa menina. Quem é que lhe disse a ela, etc. Parecia um novelo, e eu ia puxando o fio... A certa altura, "foi uma menina do 1.º ano que ouviu". Como só havia uma turma de primeiro ano, não seria difícil descobrir que menina tinha sido, disse eu, mesmo sem se saber o nome dela. 

 

Nesta altura da "investigação", a Luísa diz: "Pronto, eu confesso."

Eu: Confessas o quê, Luísa?

Luísa: Fui eu que inventei que a Mariana tinha dito aquilo. Eu e ela tínhamos discutido, eu estava zangada, e então inventei que ela tinha dito aquilo. Mas ela não disse nada. [Para a Mariana]: Desculpa.

 

Não sei que cara fiz, mas fiquei parva. Parva com o requinte da Luísa: ela não foi dizer à Inês que ouviu a Mariana dizer aquilo, disse a outra pessoa que outra pessoa tinha ouvido a Mariana dizer aquilo. Fez a coisa de modo a que dificilmente se descobrisse a origem do boato. Depois, quando viu que toda a gente [leia-se: todas as meninas] estava contra a Mariana, que proclamava em vão a sua inocência, a consciência pesou-lhe e disse à Mariana que acreditava nela. Pudera, ela - e mais ninguém - podia ter a certeza que a Mariana não estava a mentir...

 

Foi uma aprendizagem para todas as envolvidas. A Inês acabou por pedir desculpa à Mariana por ter acreditado no que lhe contaram "à primeira" e ter duvidado dela. A Mariana desculpou. A Carla também lhe pediu desculpa e também foi desculpada.

 

A Luísa, espero, aprendeu que a mentira "tem pernas curtas" e que as zangas são normais entre amigos, mas não se resolvem com intrigas, antes pelo contrário.

 

Eu aprendi, de uma forma muito direta, que as crianças podem ser cruéis. Já sabia, mas ver assim, em direto, que podiam ser cruéis e tão rebuscadas, não estava à espera. 

 

 

*As amizades na turma não tinham em conta o tom da pele. A Inês e a Carla não eram particularmente amigas (a Mariana era mais amiga da Inês do que a Carla, antes e depois deste episódio), pelo que não pude deixar de achar, na altura, como agora, que a Carla tinha levado a peito a alegada ofensa, por uma questão de cor.

07
Jun20

Está ou não está, eis a questão!

(quando um aluno tem o vídeo desligado)

Bruxa Mimi

Ano de escolaridade: 4.º (ensino à distância).

 

Estamos a meio da correção de um exercício do manual. Peço a um aluno que responda.

Aluno: Desculpe, professora, eu não tenho aqui o livro.

Eu: E só agora é que deste conta? Já corrigimos um exercício!

Aluno: Posso ir buscar o livro?

Eu: Sim, vai e despacha-te!

O aluno sai, deixando o microfone e o vídeo ligados.

[voz-off, de mulher]: Deixaste o vídeo ligado? Estás parvo?!? Assim sabem que não estás lá!

 

 

 

22
Mai19

Dicionário falante

Bruxa Mimi

Ano de escolaridade: 4.º.

 

Há alguns alunos que pensam que eu sou um dicionário de inglês-português [correção: português-inglês corresponde mais à realidade]. Já os desiludi algumas vezes. Ontem não foi uma dessas vezes.

 

No fim da aula, um aluno veio "consultar-me", na companhia de outro.

 

Aluno: Como é que se diz "refém"?

Eu: Hostage.

Aluno: Obrigado.

Outro aluno: A professora sabe tudo! 

Eu: Não, não sei tudo.  Mas sei muito... 

08
Fev19

De burro a cavaleiro andante

Bruxa Mimi

Ano de escolaridade: 4.º.

 

No intervalo após a aula, estavam ainda alguns alunos à minha roda, em amena cavaqueira (conversa relacionada com a disciplina, mas livre, por assim dizer). A certa altura, uma aluna diz a palavra donkey, pronunciando-a "donquei". Eu aproveito para corrigir a pronúncia.

 

Eu: Não é "donquei", é "donqui". Don-qui.

 

Outro aluno continua: ...xote!

don_quixote.jpg

Aquela "saída" foi completamente inesperada e arrancou-me uma gargalhada bem-disposta. 

26
Jan19

Não, encontrei esta na rua.*

Bruxa Mimi

Ano de escolaridade: 4.º.

[Nota prévia: Nas minhas mãos, em 99,999999% das vezes, uso apenas a aliança. Os meus alunos deste ano letivo nunca viram outra coisa a "enfeitar" os meus dedos.]

 

Aluna, olhando para a minha mão: É a sua aliança?

 

*Não foi isto que respondi, ok? Disse que era claro que sim (mas já não me lembro se o disse em português ou inglês!).

01
Out18

Apelido estrangeiro...

#só que não!

Bruxa Mimi

Ano de escolaridade: 3.º e 4.º.

 

Eu ensino inglês a alunos de terceiro e de quarto ano. Eles tratam-me por "Mrs" + o meu último apelido. O meu último apelido é 100% português. Mas já reparei que muitos alunos, de várias turmas (tenho nove turmas), quando falam comigo, dizem "Mrs Apalidow", dando um sotaque inglês ao meu "Apelido", como se a seguir a "Mrs" não pudesse vir um nome português...

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