Ano de escolaridade: 3.º.
Na penúltima aula de inglês numa turma, um aluno (D.) não fez nada do que lhe disse. Pedi-lhe a caderneta a meio da aula para eventualmente escrever um recado - que só escreveria no fim da aula, se o trabalho continuasse por fazer.
O trabalho ficou por fazer. Então, quando já tinha mandado a turma sair, abri a caderneta para começar a escrever. O D. ficou um bocadinho para o desesperado, com os olhos em lágrimas. Ao que parece, quando os pais leram um recado do professor titular, zangaram-se a sério com ele [o filho - convém esclarecer, da maneira que as coisas andam... Abençoados pais!] e ele [D.] não queria realmente levar outro recado.
Ao ver o miúdo tão desesperado, pensei duas coisas:
- Se eu não escrever o recado, ele vai ficar a pensar que basta fazer um choradinho para a professora de inglês não escrever para os pais - por consequência, vai continuar a portar-se mal e a não fazer o que lhe mando...
- Pode ser que, ao não escrever o recado, e ao tentar outra abordagem, pelo menos hoje, consiga estabeler uma "ponte" com o D., e as coisas melhorem.
Escolhi a segunda opção. Não escrevi o recado, mas conversei com ele, dizendo-lhe que, nas próximas aulas (não defini quantas) teria que mudar o seu comportamento para melhor, pois, se não mudasse, eu iria garantidamente escrever para os pais. Ele disse que "se ia portar bem". Eu levei-o a esmiuçar o que era "portar-se bem", escrevi essa listagem no meu bloco e, no fim, li-a em voz alta, com ele a olhar para o que estava escrito, e disse-lhe: "Agora, assina o compromisso." Ele assinou.
Depois, para que ele pudesse apresentar uma justificação para a demora naquele dia, pedi-lhe que recolhesse os cartões com os nomes, espalhados pelas mesas, e dissesse aos pais que me tinha estado a ajudar (o que era verdade, a partir daquele momento).
Hoje foi a primeira aula a seguir ao que acabei de contar. O D. esteve muito bem. Fez o que devia, sem demoras, não atirou coisas pelo ar, enfim... foi civilizado! No fim da aula, perguntou-me se podia "dar-me uma palavrinha". Eu disse que sim. Veio ao pé de mim e perguntou-me ao ouvido:
- Cumpri?
Eu, à primeira, não percebi a que é que ele se referia. Nunca mais tinha pensado no compromisso! Por isso, respondi:
- O quê?
- Cumpri?
Fez-se luz no meu espírito. Desta vez, soube o que dizer:
- Vamos ver!
Fui buscar o bloco, abri na página do compromisso e li a listagem em voz alta. Para cada "componente", o D. disse se tinha cumprido ou não. Tinha cumprido tudo. Ficámos ambos contentes, mas eu não perdi a oportunidade de lembrar:
- Nas próximas aulas também é para cumprir!
Ele concordou, e disse que era para cumprir até ao "final do ano". Eu concluí que assim só teria maravilhas para dizer na avaliação. Ele sorriu, concordando, e saiu da sala - não sem antes arrumar umas cadeiras que tinham ficado fora do sítio.
Que bom será se assim continuar...